sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

A saga dos guerreiros - Parte I

A batalha tem início já na semana que antecede a partida. A preparação perpassa por elementos de logística, insumos, alimentação, etc. Tem início também a preparação psicológica para uma longa jornada longe da família e dos amigos.
No dia da partida, uma última parada para comprar alguns itens ainda ausentes no bornal como cigarros, isqueiro, analgésicos e antiácidos.
No porto, os últimos ajustes no transporte e o embarque das provisões iniciam-se em meio a brincadeiras com companheiros de outras embarcações. Feita a lista de verificação, o motor é acionado e a odisséia dos soldados inicia-se com um ronco forte e uma fumaça negra que entorpece os intrépidos viajantes. É hora de dizer até mais e se concentrar no que vem pela frente nos próximos dias.
Em meio a agitados “banzeiros“ e a uma brisa leve, a paisagem encanta aos neófitos, mas passa diante dos olhos dos mais experientes como algo corriqueiro.
Alguns tiram um cochilo, outros bebericam um café forte, que acabou de ser passado, e fumam cigarros enquanto discutem assuntos aleatórios que vão desde a política contemporânea até a situação catastrófica que se abateu sobre o Haiti. Os mais dedicados, já azeitando suas “armas“, o fazem como se esperassem uma batalha iminente. E ela virá!
Bastam algumas horas navegando para que a ocupação humana comece a rarear. Comunidades distantes e com no máximo trinta pessoas, se destacam em meio a mata que margeia o grande rio. O trânsito de embarcações motorizadas fica menos intenso e dá lugar a pequenos botes a remo.
Ao longe, o caboclo acena para os bravos guerreiros que mais uma vez fazem aquele trajeto. Um simples sinal que reanima os soldados, a essa hora já demonstrando sinais de tristeza e saudade. Mas nem todos compartilham do mesmo sentimento. Há aqueles que estão animados com a viagem. São os que levam a sério a máxima de que o marinheiro tem um amor em cada porto.
Após muitas horas navegando, uma merecida parada para o descanso. E há como descansar quando o inimigo já pode ser visto nas trincheiras? Mesmo em tempos de guerra, o corpo precisa se recuperar. Alguns disparos demarcam a zona protegida e permitem uma noite razoavelmente tranqüila, mas sem baixar a guarda. A estratégia de defesa é importante nesse conflito.
O dia amanhece e o cheiro de café desperta os últimos guerreiros a acordar. Agora, sob a luz do sol, as primeiras baixas de guerra começam a surgir em meio a uma leve neblina que dá um ar de filme gravado em película à paisagem. São pessoas em busca de ajuda para tratar suas chagas, conseqüência de batalhas recentes. Após cumprir com seu dever e deixar provisões no posto avançado, como o farão em alguns outros postos avançados antes de chegarem no front, eles seguem viagem.
O inimigo é traiçoeiro. Durante o dia ele se esconde sorrateiramente na mata, camuflado em meio a floresta, como um guardião, acompanhando todos os movimentos, se guardando para a noite, quando suas tropas lutam em vantagem. O tempo quente e muito úmido desgasta nossos heróis e ao mesmo tempo, funciona como uma fonte de energia para o inimigo que ganha forças e se multiplica de forma assustadora.
Mais algumas horas de viagem, algumas paradas estratégicas e abastecimentos de insumos, e um evento chama a atenção da tripulação. Um ruído forte dá indícios. Um dos soldados confirma:
- Soldado inimigo abatido.
Estamos em território inimigo, é hora de se preparar... (CONTINUA...)